Al sur de Europa

Miguel Oscar Menassa -2002

 

O GENOMA HUMANO

Hoje te escrevo um poema e te digo,
nos meus, culhões, não tocarão.
Nem o amor, nem a brisa,
nem as ciências, nem a arte,
nem o genoma humano que tudo saberá.

A mim, os culhões, não tocarão.
Nem o amor com sua fúria que te toca e te mata.
Nem a brisa ou o ar da velha cidade.
Nem as ciências levianas, exatas e arrogantes.
Nem as artes profundas de alguma humanidade.
E o sábio genoma, do homem nos dirá:
Dos seis milhões que habitam a terra
humanos, deveríamos saber, todos igualmente,
três milhões já estarão morrendo
pela "maldita" falta de pão.
Mas ao pedir explicações,
porque eu acredito que o pão sobra,
o mundo inteiro de poderosos,
me responderam com amabilidade:
que alguns morrem de sarampo,
a droga mata disse o ministro
e outros morrem por diversão.
Os que não comem não é para tanto
um erro muito pequeno na distribuição.

E quanto ao resto, os três milhões,
vivendo e morrendo sempre pela metade,
o genoma supersabido, do homem nos dirá:

Este meio cérebro que não podes usar,
é a metade do homem que morre por pão.
Esta dupla vida: a realidade, os sonhos,
é da fome da terra só a metade.

Se só morresse a metade, disse o poeta,
o homem chegaria a certa clareza,
mas o que acontece, genoma amado,
é que a culpa nos matará.

O homem atual
o que morre de sua metade
odeia os seres queridos
e ama a paz.
Maltrata até a morte ou a dor
seja mulher, amante ou concubina,
educa tão mal o que produz
que envenena aos jovens
para que ninguém roube
seu posto de trabalho,
seu único trabalho:
seguir matando sua metade.

O genoma infinitamente sapiente,
ao chegar a este ponto, do homem nos dirá:
O homem vive enfermo e não se curará
para poder curá-lo não dá com a metade.

 

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