ARTE POÉTICA
Poesia, o sei,
enquanto te escrevo,
deixo de viver.
Entrego,
mansamente, minhas ilusões,
meus pobres pecados proletários,
meus vícios burgueses e, ainda,
antes de penetrar teu corpo,
tapete apaixonado-
abandono minha forma de viver,
misérias,
loucuras,
fundas paixões negras,
minha maneira de ser.
Vazio de
minhas coisas,
porta-bandeira de nada,
transparente de tanta solidão,
invisível e aberto,
permeável aos mistérios de sua voz,
tento,
risco sonoro sobre a pele do mundo
a pele da morte
a pele de todas as coisas.
Poesia, sobre
tua pele, traços sonoros,
esquírolas apaixonadas,
imborráveis estilhaços de meu nome.
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